Eu ando meio ausente do Twitter. Minhas contas (eu tenho TRÊS) seguem lá, mas eu apaguei o aplicativo do celular. Depois de uns quinze anos na plataforma, acho que cansei da brincadeira, e embora o Kiko da Tesla tenha sua parcela de culpa com seu estilo de gestão aparentemente baseado em antagonizar e encher o saco de quem gosta do seu produto, acho que o principal motivo é um cansaço com o nível das discussões e polêmicas que a turma anda levando para lá. Se eu quisesse falar sobre celebridades e marcas, eu estaria vendo televisão. É difícil entender a juventude às vezes.
Entretanto, num dia desses, enquanto passeava lá pelo CAPS Banana Preta em um momento de profunda procrastinação laboral, um interessante personagem capturou minha atenção. Uma alcunha se oferecia na sempre brutal lista de assuntos do momento: “Beiçola do Privacy”. É fácil ignorar quando a rapaziada está brigando por causa de k-poppers, atacantes do Flamengo ou Andressa Urach, mas quando o casting da internet brasileira nos apresenta alguém desse calibre, é até um desrespeito não prestigiar. Era necessário compreender a situação.
Acabei descobrindo que a Beiçola da Privacy é uma jovem gaúcha ganhando muito dinheiro na internet com material sensual e amealhando um enorme número de fãs (pessoas a favor da expressão sexual livre, pessoas que apreciam o senso de humor escrachado da performer nas redes, pessoas que gostam de seios) e detratores (pessoas que acham gente pelada na internet um absurdo, pessoas que acham o trabalho sexual um absurdo, conservadores falcatrua, movimentos políticos de “direita”, rapazes que acham que as mães deles deveriam ganhar mais dinheiro que a Beiçola). Eu não conheço o trabalho da profissional, apesar de que, na última vez que eu vi, ela estava oferecendo seu material por R$ 9,90, que hoje em dia não compram uma long neck em muitos estabelecimentos paulistanos. Não descarto eventualmente conferir o Privacy da moça, acho que é isso que estou querendo falar.
Não estamos aqui para discutir profundamente o fenômeno Beiçola do Privacy. Caso você queira ler uma reflexão sobre o tema envolvendo pornografia, relações trabalhistas no século XXI, feminismo, misoginia e o fim da privacidade nos tempos de redes sociais e influencing, eu te recomendo a última edição da melhor newsletter do Brasil. Lá, a Marie Declercq, com a cátedra costumeira, vai te pegar pela mão e te levar para um rolê pelos principais pontos desse assunto, que é besta e pontual, mas também é sério e respinga em coisas muito maiores que andam acontecendo na sociedade.
A minha intenção com esse relato é ajudar essas VÉIAS CAROLAS que veem alguém mostrando a genitália na internet e acham que o mundo está acabando a desmistificar plataformas como o Privacy e compreender que a oferta de corpos e atendimento de fetiches é ancestral e não vai parar tão cedo. Aliás, na semana passada eu estava em Brasília e vocês tinham que ver a quantidade de prostitutas na W3 Norte. Como na W3 só tem oficina e bar de hipster, a turma acha ok; seria problema se o pessoal estivesse usando seus bustiês e microssaias no Eixo Monumental, na frente do Ministério da Fazenda (ao lado dos políticos que se VENDEM em troca de algumas MOEDAS e quem se FODE é o povo brasileiro #criticasocialfoda). Eu acho que não devia ser assim e por isso coloco meu bustiê e minha microssaia metafóricos para fazer uma revelação.
Eu tenho um OnlyFans.
Não, você não verá o rosto do doutor, seu peitoral definido ou suas panturrilhas fornidas. Calma. É difícil de explicar, mas vamos lá: eu não tenho as unhas dos dedos mínimos dos pés. Quer dizer, eu tenho “unhas”, talvez você possa chamar aquilo de “protounhas”, são uns quadradinhos de queratina meio parecidos com garras, mas não afiadas; tipo garras sem ponta, pra você aprender a usar. Seria mais fácil colocar uma foto aqui mas eu não vou atrapalhar a sua experiência internética com fotos dos meus pés, que são horríveis. Pra mim todo pé é horrível, eu sei que tem um pessoal que adora, mas eu prefiro nem olhar.
Quando eu era criança eu achava que todo mundo tinha essas protounhas, mas não, as pessoas tem unhas normais inclusive nos dedinhos dos pés! Hoje eu vejo que essas coisas que eu tenho aqui são meio esquisitas mesmo, mas não me incomodo, até porque eu moro em São Paulo, cidade onde todo mundo sabe que não se pode andar de chinelo, sob pena de ser encurralado pela população e receber uma cobertura de piche e penas antes de ser levado para um sacrifício ritual no rio Pinheiros, ali perto daquele bar flutuante cretino que a Heineken montou em suas águas cheias de bosta. Baita ideia, meus queridos. Voltando: quem se importa com as unhas dos pés, não é mesmo?
Pois tem quem se importe sim. Descobri um grupo pequeno, mas muito fiel, de entusiastas preparados para pagar 12 dólares mensais por fotos de boa qualidade dessas placas proteicas heterodoxas, pessoas sofisticadas o suficiente para saber quando as unhas foram modificadas, seja por lixa ou Photoshop. É uma comunidade espalhada por todo o mundo, mas com estranha predominância na Ásia Central, aqueles países ex-soviéticos com o sufixo -stão, sabe? Homens e mulheres, uma vasta gama etária. Já recebi propostas que fariam sua mãe (ou membros do MBL) realizar um sinal da cruz e sussurrar um “creindeuspai”.
Imagino que o amigo leitor esteja achando que estou de palhaçada com a sua cara. Se você visse meu extrato bancário, não pensaria assim, meu querido. Ainda não acredita? Entre no OnlyFans, busque pela palavra-chave “quasinails” e se surpreenda. Talvez você encontre o seu amigo doutor por lá. Não estou tão alto nos rankings da plataforma como a nossa querida Beiçola, mas os seguimores estão satisfeitos, assim como a minha necessidade de validação, likes e fundos para custear meus luxos. Todo mundo está feliz, com a exceção de uma rapaziada besta e fuxiqueira que, até onde eu sei, pode ir brincar de centopeia humana pra lá.
O mundo sorri. Não é comum, vamos aproveitar. E se você não gosta, procura outra coisa, oras. Dizem que na internet tá cheio.
Acreditei em absolutamente tudo porque não quis fazer essa pesquisa no Google imagens, fascinado e procurando alguma parte do meu corpo que seja diferente e não apenas feia
Mete o pé doutor (ui)